quinta-feira, 6 de novembro de 2008

vidas invisíveis.


Frente ao atual panorama da violência em Pernambuco, os alunos da Universidade Católica puderam debater junto ao repórter especial do Jornal do Commercio,Eduardo Machado sobre uma antiga vertente cada vez mais ignorada pela sociedade.
Machado realizou uma pequena amostra do que viria a relatar no último domingo,31 de agosto, em seu caderno. O tema abordado se fez exclusivo pois relatou de forma diferenciada a criminalidade em Pernambuco. O repórter expôs em dados estatísticos e humanos como está a situação e em que posição encontra-se o Estado no índice de mortalidade.
A reportagem publicada afirmou que Recife é a capital campeã em homicídios e que curiosamente os mesmos não chocam mais uma grande parcela da população. Assim como que o nosso Estado,em 2006,teve mais crimes do que na Espanha,Bélgica e Suiça somadas. O clichê de que os perfis dos assassinos e assassinados fazem parte de uma classe menos abastada é completamente verossímel. A questão relatada não é uma forma de visão comodista. Segundo pesquisadores dos 1.424 homicídios ocorridos entre jovens, de 10 a 19 anos, na cidade de Recife de 1998 a 2004, 93% residiam em áreas precárias do Estado,onde os parâmetros de saneamento básico,moradia,alfabetização entre outros,eram insatisfatórios ou intermediários.
Onde estaria a justiça e igualdade tão lutadas por povos antigos? Por que não dar prioridade aos “joãos ninguém”? Surge então o silêncio. Será que realmente alguém se importa? Existe uma falha não só da parte de quem compõe o Estado em quaisquer de seus poderes - Legislativo, Executivo ou Judiciário – como também da sociedade, já que ambos são de extrema importância na fixação da eliminação dos problemas sociais. A ausência de garantia a uma vida digna traz uma carência nas condições,principalmente,
dos mais necessitados visto que não recebendo tal apoio, sofrem muito mais a consequência de todo esse caos. A “matança” cada vez mais gradativa e mesmo que notável não é vista como deveria ser pelas pessoas, culminando em uma espécie de aceitação tácita de que alguns nascem para morrer de forma brutal e que nada pode ser feito,assim como evitando um trabalho conjunto para reverter esse quadro em que vivemos atualmente.
De uma vida sem herança a uma morte sem vestígios foram abordados casos de mães que buscam,incansavelmente, o corpo de seus filhos, que para a maioria “não passa de mais um pacote no meio de tantos”. O fato de eles serem indigentes para grande parte não ofusca a realidade em que suas mães se encontram: incansáveis na busca por um adeus digno em um simples velório. Seria esse um país de todos? A realidade dita fria e cruelmente que “não”.
Um cenário banal da morte,onde só quem morreu é que se acabou,já que, para todos nós a vida continua. Como alguém que não possuí se quer a possibilidade de desfrutar o verbo “viver” pode assim “morrer de verdade’’? Afinal, quem não se enquadra em uma condição significativa de ser tratado como um real ser humano,não pode sentir o peso que a ausência de sua existência pode vir causar,já que não se viveu como deveria. Sem escolhas, eles apenas margearam a existência.
“Não é um fenômeno brasileiro ignorar o sofrimento das classes menos favorecidas” afirmou o sociólogo Luís Carlos Fridman. Assim como ele, muitas pessoas concordam com esse pensamento porém, paradoxalmente, se mostram passivos quando ações de extermínios dos mais pobres acontecem. Não existe o certo ou o errado,existe o melhor para todos nós, portanto, as vítimas e os acusados são consequências de uma má estruturação que nos traz uma herança trágica. Esses jovens que têm suas respectivas vidas retiradas de forma repentina e por razões desconsideráveis são só os resultados de falhas contínuas em que todos nós atuamos.

Em “vidas invisíveis” vale ressaltar também que foram publicados os trechos de diários de dois meninos e duas meninas que relataram momentos de suas rotinas. O tempo de posse desses diários dado pelo Jornal do Commercio a cada um desses jovens foi de exato um mês,duração essa suficente para mostrar uma realidade profundamente maior do que os nossos conceitos como telespectadores são capazes de intuir. “As pessoas não se importam com esses jovens. Ninguém enxerga eles como seres humanos.São pessoas carentes de tudo, principalmente de dignidade. Enquanto continuarmos ignorando que fechar os olhos para eles é nos condenar a viver com o medo, nada disso vai mudar” avaliou o educador Demetrius Demétrio que coordena a ONG Comunidade Pequenos Profetas.
De um lado, sonhos e expectativas, do outro, agressões juntamente com triste desprezo, todos passados em linhas, que além de tentar retratar o cenário cruel da falta de oportunidade, teve como objetivo principal um “forte grito de alerta.” Dizer que a violência e a indeferença não passam de um problema inexorável é o mesmo que falar em “ uma fuga do mundo de que participamos”. Embora não esteja tão aceito, os maiores violadores dos direitos humanos não são aqueles que estão, por exemplo, na prisão e sim os que possuem as chaves dela. A esperança de uma reviravolta desse triste episódio em Pernambuco está inicialmente no sentimento de que essas chaves não estejam nas mãos dos únicos capazes de reverter esse quadro,ou seja, nós mesmos.

Um comentário:

Mike disse...

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